terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A diabólica cultura do não poder perder*


Pr. Neemias Lima

Este ano acontece a Copa do Mundo. E será no Brasil pela segunda vez, sessenta e quatro anos depois. Pensei em participar de pelo menos um jogo. Quando vi o valor do ingresso, desisti.

Há quatro anos, quando o Brasil saiu da competição, queria torcer pela Holanda, nunca foi campeã e em 2000 estive lá num Congresso. Ela também se desclassificou, torci pela Espanha, que também nunca fora campeã e naquele ano conseguiu o caneco.

Por aqui, também, há quatro anos, a era Dunga chegou ao fim como técnico. Assim foi o comunicado oficial da CBF: “Encerrado o ciclo de trabalho que teve início em agosto de 2006, e que culminou com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo da África do Sul, a CBF comunica que está dispensada a comissão técnica da seleção brasileira. A nova comissão técnica será anunciada até o final deste mês de julho”. Li em O Dia Online que, “com Dunga, a seleção brasileira disputou 68 jogos desde agosto de 2006. Teve 49 vitórias, 12 empates e sete derrotas (incluindo os jogos da Olimpíada de 2008)”. Sendo corretos os números, Dunga alcançou a seguinte média em percentuais: 10% de derrotas, 18% de empates e 72% de vitórias, números arredondados. Se considerarmos empate como acerto, teremos 90%.

Na Europa, e em outros lugares, as primeiras colocações são celebradas. No Brasil, só a primeira. Aqui, o segundo é o primeiro dos últimos. É uma pena, pois nem sempre se ganha quando se disputa um campeonato. Rubens Barrichello é vice-campeão mundial de fórmula um e é zombado por quem mal dirige um fusquinha.

Como explicar uma performance dessa não manter um técnico no cargo? Só mesmo a diabólica cultura do não poder perder. Após a derrota, os culpados foram encontrados e poucos (desculpe-me, mas sou um destes) reconhecem que se tratou de uma caminhada vitoriosa. Vários tabus foram quebrados, conquistas foram verificadas e, por um tempo mal jogado, todo o trabalho foi esquecido. Cheguei a ler mensagens de cristãos com xingamentos dirigidos a Felipe Melo, Dunga e Jorginho. O narrador mais badalado e mais detestado do Brasil fez duras críticas a Jorginho. Não se lembram que até Zico, um dos maiores jogadores de todos os tempos, perdeu pênalti em plena Copa do Mundo? E que a melhor seleção, para muitos analistas, de todos os tempos, a de 1982, não trouxe o caneco?

Mas o assunto não é propriamente futebol. É combater a diabólica cultura do não poder fracassar. Somos imperfeitos, falhos e estaremos sempre diante de derrotas. Precisamos valorizá-las como aprendizado e olhar mais para as pessoas do que para os resultados. Estes são importantes, mas as pessoas são mais. Nem sempre conseguiremos o máximo, mas continuamos o máximo para Deus. Nem sempre seremos os melhores, mas somos obra prima da criação de Deus. Nem sempre seremos campeões, mas temos garantida a vitória final. É sempre bom lembrar que alguns consideram Jesus um fracassado, isso porque morreu na cruz. Aliás, ele disse que “quem quiser ganhar, tem que perder”.

Daqui a quatro meses e meio, estaremos em plena disputa da Copa. Brasil colorido. Povo cheio de alegria. Um mês depois, tudo encerrado. Sendo campeão, o que não acredito, embora torça, o Brasil viverá mais uns quinze dias de comemoração.

Ganhando ou perdendo, a vida continuará. Com os fracassos, precisamos ter novas atitudes. Maior compreensão com os fracassos do pai, da mãe, dos filhos, do irmão - carnal ou espiritual. Seremos verdadeiros campeões na verdadeira copa do mundo, a vida, cuja organização não é da FIFA, mas do soberano Deus, que espera de nós muito mais do que uma vitória, mas verdadeira entrega, “pois quem quiser ganhar, tem que perder”.

*Pastoral do Boletim da Igreja Batista do Braga, dia 26 de janeiro de 2014.

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