sábado, 13 de abril de 2013

Escola Bíblica Dominical - Lição 2 - 14.04.2013


Lição 2 – Não há outro evangelho
Texto bíblico: Gálatas 1.6-10
Texto áureo: Romanos 1.16

Neste estudo, focalizaremos a brilhante defesa do apóstolo Paulo pela pureza do evangelho de Cristo. O alvo em vista é o genuíno evangelho do Reino (Mt 4.23; 24.14), que foi transmitido aos apóstolos (At 1.2; 2Pe 3.2) e, por fim, a nós, pela Palavra de Deus (1Pe 1.23-25). Será uma rica oportunidade de avaliar nossas motivações e, sobretudo, para reafirmar um fé coerente com os princípios bíblicos (Ef 2.20).

Análise do problema

Talvez não haja palavra mais importante para a missão cristã do que evangelho (gr. euangelion, Boas-Novas). Paulo, certamente, pensava assim. “Em contraste com as seis ocasiões (descontando os paralelos) em que euangelion é usado pelos escritores dos Evangelhos, o termo é encontrado sessenta vezes, ao todo, nos escritos de Paulo.”[1].

Em geral, as epístolas paulinas contêm um voto de ação de graças após a saudação inicial (1Co 1.4; Cl 1.3; Fp 1.3). Mas isso não ocorre em Gálatas. Antes, imediata e abruptamente, Paulo diz-se perplexo – o vocábulo grego pode significar uma gama de palavras como chocado, surpreso, pasmo (Gl 1.6a).

A perplexidade de Paulo foi causada pela distorção intencional do evangelho de Cristo que ocorria na Galácia, por influência dos judaizantes (Gl 2.4a). Eles questionavam o ensino apostólico sobre a graça e aliciavam os cristãos à obediência da lei de Moisés (Gl 2.4b).

Fé ou obras? Graça ou lei? Justiça de Deus ou justiça por méritos próprios? Essas são questões cruciais, pois envolvem o princípio bíblico-doutrinário da salvação.

Os cristãos da Galácia enfrentavam um dilema: viver a liberdade cristã na esfera da graça ou consentir com o domínio escravizador da lei. O problema parece recorrente no Novo Testamento, pois a oposição judaizante ao apostolado de Paulo foi intensa e incansável (2Co 11.3,4,13,22; 1Ts 2.15,16). Entretanto, a reação paulina não deixou por menos. Seu argumento mostra-se direto e incisivo: não se pode denominar “evangelho” uma mensagem de salvação que não provenha do ato gracioso de Deus (Gl 1.7). No concílio de Jerusalém, a tese de Paulo foi confirmada (At 15).

Os gálatas e nós, hoje

Em Gálatas, Paulo ensina que todo e qualquer desvio intencional na mensagem do evangelho é considerado uma perversão, uma descaracterização do evangelho (Gl 1.6-9).

Num panorama mais amplo, o problema da igreja na Galácia não é tão diferente do que vivemos, hoje, no que se refere à essência do termo evangelho. O momento atual da história da igreja revela-se, às vezes, embaraçador. Entre outras barbaridades, presenciamos:
• o uso da fé evangélica como moeda de troca no mercado consumidor cristão;
• uma geração de líderes espirituais gananciosos e descomprometidos com a Palavra de Deus;
• uma insistente postura de autojustificação e de religiosidade ritual legalista, pela maioria;
• um cristianismo cada dia mais sensorial e menos racional.

Essas falsas representações do evangelho dão pouco – ou nenhum – valor à origem do evangelho. O fato de o evangelho proceder de Deus, de Cristo, do Espírito (Rm 1.1; 15.19; 1Ts 1.5) acrescenta à mensagem de salvação um elevado grau de exigência moral e espiritual (Fp 1.27). Para os que pervertem o evangelho, entretanto, a evangelização apresenta apenas a faceta adjetiva e utilitária. A sagacidade dos filhos das trevas ao fazer uso do evangelho para anunciar apenas o que ele pode oferecer – prosperidade, sucesso, bem-estar, tudo a serviço do homem – é de fato algo sedutor (e perigoso!).

ð  Que exemplos podemos dar dessa descaracterização do evangelho?
ð  Será que essa distorção de sentido continua incomodando líderes cristãos, hoje?

A essência do evangelho

A Associação Internacional de Fragrâncias estabelece quatro categorias para os perfumes com base na concentração de suas essências. A fragrância menos acentuada é a água de colônia – 3-5% de essência, duração máxima de 6h – e a mais forte é o extrato de perfume – 15-40 %, duração máxima de 24h. Assim, aprendemos que essência diz respeito à duração e intensidade.

O modo como viveram e morreram os apóstolos, nos primeiros 100 anos do cristianismo, revela seu apego à essência do evangelho. Eles exalavam o bom perfume de Cristo (2Co 2.15), o que pode ser percebido pelos exemplos seguintes:

(1)  sua renúncia pessoal em prol do testemunho do evangelho (1Ts 2.2; At 20.24a);
(2)  sua disposição incansável para enfrentar açoites e prisões em razão da pregação do evangelho (Lc 21.12; At 5.18,29,40);
(3)  sua aceitação serena do destino implacável a eles reservado – perseguição e martírio – por pregar o evangelho, em cumprimento ao mandado de Deus  (1Co 4.9; Hb 11.36,37).

ð  Qual tem sido a "duração" do bom perfume de Cristo em nós?
ð  Até que ponto pretendemos ir para levar adiante a mensagem do evangelho?

A herança do evangelho

Os apóstolos deixaram um legado para as demais gerações de discípulos, com o seguinte teor[2]:
• um anúncio histórico da morte, ressurreição e exaltação de Jesus, demonstrada como o cumprimento da profecia;
• uma avaliação teológica da pessoa de Jesus como Senhor e Cristo igualmente;
• um apelo ao arrependimento e ao recebimento do perdão de pecados.

Desse tema evangélico não podem os cristãos abrir mão, sob o risco de falsificar a Palavra de Deus (2Co 2.17).

Não há outro evangelho, senão o do amor

A essência do evangelho compreende a proclamação do amor de Deus pelos pecadores (Rm 5.8; Ef 2.4). Para oferecer, gratuitamente, a salvação, o Senhor paga um altíssimo preço – a morte na cruz (Cl 2.13,14; 1Tm 2.6). Com esse gesto, os corações humanos podem ser inundados pelo amor misericordioso e perdoador de Deus (Rm 5.5; Ne 9.31; Tt 3.5-7), o resultado natural da manifestação de fé no Salvador (Jo 5.24; 2Pe 1.1).

Se encarnar o evangelho, verdadeiramente, o cristão há de fazer do amor o seu caminho para viver (Gl 5.22a; Rm 13.8; Ef 5.2), pois assim é que se permanece em Cristo (Jo 15.9; 1Jo 2.24). Entre outras realidades, a mensagem do amor produz:
• segurança absoluta da efetiva salvação propiciada por Deus (Rm 8.39);
• doação e renúncia, em prol do serviço a Cristo (2Co 2.4; 12.10; 2Tm 2.10);
• ambiente eclesiástico cordial e respeitador, o que representa uma derrota para Satanás e seus intentos (Rm 12.10; 2Co 2.10,11; 13.11);
• submissão aos que, sob a orientação de Deus, presidem sobre a igreja com dedicação e exemplo de fé (1Ts 5.13);
• condição imprescindível para edificação espiritual, individual e coletiva, principalmente pela guarda da Palavra de Deus (2Tm 1.7; 1Jo 2.5).

Não há outro evangelho, senão o da liberdade

Os gálatas haviam sido libertados do cativeiro da corrupção do pecado (Rm 8.21; Jo 8.32) e não estavam obrigados às leis cerimoniais do judaísmo, como a circuncisão (Gl 5.1). Por isso, o teor dessa carta fornece o perfeito exemplo da liberdade cristã.

Paulo não hesita em apontar aqueles que desejavam destruir a liberdade que Cristo tornou possível aos cristãos da Galácia. Com zelo, ardor e fidelidade partidária, esses falsos irmãos causavam alvoroço, comoção e agitação na comunidade cristã. Eram perigosos para a existência da igreja e precisavam ser impedidos. Por isso, o apelo ao anátema – uma espécie de maldição (Gl 1.8b,9b) – com dois objetivos principais: uma ordem de banimento da comunidade (exclusão) e uma salvaguarda contra ataques semelhantes no futuro.


Conselhos úteis

Deus nos chamou à liberdade (Gl 5.3). Portanto, não fiquemos a espreitar o comportamento dos demais cristãos, agindo como juízes e, às vezes, algozes. Preocupemo-nos em corrigir nossos comportamentos pecaminosos (Tg 5.16) e em disciplinar com amor e mansidão os fracos na fé (2Tm 2.25,26). 

Libertos do cativeiro do pecado, somos o “bom” perfume de Cristo, um aroma agradável, que exala a justiça e a paz na sociedade (Jr 23.6). Mas para que a essência desse perfume dure, nossa pregação e testemunho devem ter Cristo como centro (2Jo 1.9). Dessa forma, a pregação reveste-se do poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Que o Senhor nos ajude nessa nobre missão!


[1] MOUNCE, R.H. Artigo Evangelho (in: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992,  Vol. II, p. 107.)
[2] [2] MOUNCE, R.H. Artigo Evangelho (in: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992,  Vol. II, p. 109.)

Autor das Lições:
Davi Freitas de Carvalho, formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, RJ, é o atual pastor da Igreja Batista em Vila Jaguaribe, Piabetá, Magé, RJ e é o Coordenador de 
Educação da Associação Batista Mageense.

Nenhum comentário:

Postar um comentário