sábado, 15 de outubro de 2011

UM PERIGO NAS PROJEÇÕES LUMINOSAS*


Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Muitas igrejas sinalizam as partes do culto com imagens luminosas. Principalmente no tópico sobre adoração ou na hora dos corinhos. Geralmente são imagens de cenários. Alguém de braços abertos diante do mar, ou dum rio, ou, ainda, do pôr-do-sol. Os itens do culto são marcados por fotos de ambiente externo. Normalmente, a foto é de uma pessoa só, ou de uma família. Como a de uma família esbelta, vestida de branco, calças arregaçadas, andando pela praia, de mãos dadas. Esta ilustra a comunhão ou o momento de intercessão. Não sei se irão orar a Iemanjá. Até “O Jornal Batista” adotou esta prática de ilustrar seus artigos com imagens de cenários externos à igreja. Principalmente de uma pessoa diante da natureza.

Preocupa-me a mensagem passada com estas projeções. Tira-se o foco do local de reunião e se projeta para um lugar paradisíaco, como se a igreja fosse “um porre”. Seria bom estar lá fora. Associa-se o culto com o ambiente externo, e foca-se a pessoa. Há três perigos nisto.

O primeiro é a privatização da adoração. O que se mostra não são pessoas no culto, mas uma pessoa, na natureza. Não é a reunião do povo de Deus, mas a adoração pessoal. O coletivo dá lugar ao indivíduo. O que vale é o que a pessoa faz e como ela se sente. A igreja não é relevante. O referencial está fora dela e é vivido pela pessoa.

O segundo é que adoração passa a ser contemplação da natureza, e não adoração a um Deus pessoal, com a família de Deus. Cultuar a Deus torna-se admiração, êxtase, gestual, não reflexão que leva à ação. A ética é omitida. Deus é mais o Criador que o Redentor. É mais a Força que o Santo. Adoração é contemplar a criação, e não se render diante do Redentor. Por isso, a igreja evangélica no Brasil, que enfatiza tanto o êxtase e o ruído, tem problemas sérios com ética e caráter.

O terceiro é a desidratação da Igreja. Ela é  irrelevante. Pode se adorar a Deus vendo o mundo externo, ao invés de ficar cá dentro, ouvindo a Palavra. Valorizam-se os sentimentos e não o culto público. Por isso, vez por outra, neste culto a si mesmo, há quem diga: “Não preciso da Igreja para seguir a Jesus”. De onde tirou tal tolice? Esta declaração já mostra que não está seguindo a Cristo, mas sua idéia própria. Jesus amou e fundou a Igreja. Ele nos inseriu nela. Crentes combatentes da Igreja são vaidosos, cheios de si, ou estão em pecado. Ou, ainda, ruins de relacionamento. Não sabem viver em grupo e o atacam.

O culto não é contemplar a natureza, mas é a reunião do povo de Deus. A salvação é individual, mas não individualista. Por isso, menos foco na natureza, e mais no povo de Deus. Mais foco no ambiente interno, a comunhão dos santos, e menos no ambiente externo e na pessoa.

Usemos as figuras. Mas cuidado com mensagens subliminares.


*Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 16.10.11
Fonte: http://www.isaltino.com.br

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