sábado, 13 de agosto de 2011

FERIDAS DO ESQUECIMENTO



Por Pastor Estevam Fernandes de Oliveira


Certa vez, tomei conhecimento de um episódio impressionante, que causou um forte impacto sobre a minha vida, especialmente no que diz respeito à importância dos relacionamentos significativos da vida e de como eles se tornam periféricos em nossos dias, sobretudo, por conta do individualismo que tem marcado a nossa geração.

Quando foi receber o prêmio Nobel da Paz, em 1979, Madre Tereza de Calcutá fez menção a uma visita que fizera a um dos mais luxuosos asilos para idosos, na América. A beleza e o luxo deixaram-na impressionada. Contudo, algo a impactou mais ainda: os velhinhos ali colocados pelos próprios filhos tinham no rosto uma profunda expressão de tristeza. Ela, intrigada, indagou a si mesma: “por que tanta tristeza e expressão de dor naquelas pessoas, apesar do conforto material que as rodeava?”

De repente, percebeu que todos eles olhavam para uma grande porta. Curiosa, perguntou à sua acompanhante: “Por que todos olham para a mesma porta? E por que não conseguem sorrir?” A responsável pela visita respondeu-lhe: “Eles olham para aquela porta porque esperam ansiosamente a visita dos filhos, e este semblante triste e distante que trazem no rosto é porque se sentem feridos. Acham que foram esquecidos por seus familiares. Infelizmente, de fato, foram esquecidos pelos seus”.
As pessoas ao nosso redor estão famintas não só de pão, mas de afeto também. Existe uma profunda fome de amor, alegria, reconhecimento, gratidão, paz e companhia, debilitando a existência de muitos. Na verdade, por trás de tudo isso, o que existe mesmo é uma dolorosa fome por relacionamentos significativos. Fome de reconhecimento e afetividade.

Aliás, todos estamos famintos. Até mesmo a pessoa mais bem alimentada traz consigo uma fome interior no coração. Esta fome está presente no mundo todo de hoje! É a fome de significado, uma necessidade de não ser esquecida.

Muitos estão olhando para uma porta, exatamente aquela que lhe possibilitará, de maneira verdadeira, sem nenhum risco de rejeição, compartilhar aquilo que eles realmente são. O desejo de um abraço sincero, de uma palavra amiga, de um gesto de carinho e de um olhar de aceitação tem deixado muitos com os olhos fixos em uma espécie de “porta de esperança”, pensando: “Quem sabe, algum dia, alguém se lembrará de mim e virá visitar-me?”

Dolorosamente, muitas casas hoje se transformaram em estranhos asilos por conta do isolamento, da solidão e da frieza com que são tratadas as pessoas que ali residem. São vidas exiladas em suas próprias casas. Quando isto acontece, a angústia obriga as pessoas a procurar um alento. Elas precisam enxergar a esperança, ainda que tardia. É a fome de vida que as força a olhar para uma porta qualquer.

Enfim, os asilos estão por toda parte. Para curar a dor e as feridas da alma, aprendamos a compartilhar o amor com o próximo e, acima de tudo, fixemos os olhos em Jesus Cristo, que é Porta da esperança e a Companhia na solidão. Ele sara as feridas do esquecimento!

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