domingo, 24 de outubro de 2010

O traficante no inferno

Quando o traficante
passou pelos umbrais do inferno
Satanás - o anjo mal -
o recebeu de garras abertas!
- Pode entrar, meu irmão,
a casa é sua!

E, incontinente, lhe deu as
más-vindas
e reservou no Hades
o lugar mais fétido
e mais nojento,
o castigo mais duro
e o fogo mais voraz -
E lá no inferno crepitante
o traficante
continuou a viver e morrer sem ter paz!

Quando o diabo
leu o relatório
das maldades infernais
praticadas na Terra pelo traficante:
jovens prostituídas,
destruídas,
devoradas pela angústia e pela morte,
adolescentes roídos pelo veneno dos tóxicos,
pálidos,
indefesos,
olhando o vazio,
tropeçando nas trevas do abismo,
chorando
e se agarrando ao mal que os extermina,
quando o diabo leu
o relatório
de toda aquela crônica assassina
julgou-se superado,
ultrapassado,
e teve um quê de inveja,
um despeito maligno só desfeito
pela certeza, pela compreensão
de que todo delito praticado
tivera o seu apoio,
a sua imunda colaboração.

E o traficante coabitou o inferno
tendo o diabo como seu irmão.
E todos os dias ambos
serviram sua bebida predileta:
sangue de juventude
e lágrimas de mãe.

E nunca o inferno
foi tão autêntico
tão imundo,
tão cruel,
tão perto da maldade,
tão distante do céu.

Gióia Júnior

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